A professora imita o som do sinal que organiza os horários da escola. Entrada, saída, intervalos. Imita tão bem que parece mais efetivo que o sinal automático, sem a voz humana. E humano é este sinal imitado. Ouvi-lo é como imaginar o que a professora grita ao apontar o comando aos alunos e professores. Estará alertando sobre a necessidade de cuidar melhor um dos outros? Estará indicando o tempo que precisa ser melhor aproveitado? Ou será que o sinal emitido por sua voz ecoa suas angústias e desespero frente ao desumano dos gestos, das palavras e dos corpos que preenchem os corredores?
Talvez não seja apenas um dom e, sim, a possibilidade de dizer sem dizer, de gritar a necessidade de mudança de comportamentos e posturas frente ao conhecimento. De repente, tocar o sinal é modo de ativar o ouvir, preparar para a sedimentação do aprendizado e a sede de saber.
Uma professora e seu som de alerta às novas gerações. Que fiquem atentos ao planeta, que desejem a paz, que lutem pela justiça social e pelo direito de ser o que for escolha. Um som com muitos sinais.