Foram 6 anos à espera de respostas. Quem matou, quem mandou matar, por que mandou matar. Aos poucos, o jogo político foi se mostrando vil, miseravelmente perigoso, estranhamente velado. E o Rio de Janeiro expõe faces não muito agradáveis do pais da alegria, do carnaval, do colorido diário, da ginga de corpos bem cuidados. De repente, o obscuro foi tomando conta de uma paisagem única entre Corcovado e Pão de Açúcar e a garota de Ipanema tem cor, raça, tem garra e corre riscos. Sair da ilusão do samba e identificar suas denúncias, enxergar a crueldade de milícias, aproveitando a pobreza dos morros e das periferias como peça para extorquir, machucar, matar. As entranhas de um poder que atravessa avenidas, introjeta-se na violência nem sempre disfarçada de segurança pública. Não mais um Estado paralelo, mas um Estado contaminado, se fortalecendo em crimes ignorados, encobertos e incorporados ao cotidiano carioca.
Há que se pedagogizar estes 6 anos de cobrança e de espera por respostas. É preciso problematizar a presença da mulher na política que tanto incomoda arranjos patriarcais com interesses particulares. É preciso indagar o sentido da luta política por melhores condições de vida, de dignidade. É preciso estudar os motivos de tanta desigualdade social. É preciso compreender as ocupações territoriais provenientes de um capitalismo que invade e explora, mata e constrange, enfraquecendo a possibilidade do viver de um povo.
Curricularmente, conferir à política sua grandeza, sua necessidade, sua adjacência à democracia ainda (ou sempre) em processo de fortalecimento. Um aprendizado que a escola precisa garantir. Não é nefasta a formação política, é uma necessidade sine qua non para o reconhecimento e a garantia de direitos humanos. O currículo, pois como caminho para destrinchar os significados do entrelaçamento de arma e palavra, de marginalidade criminosa e ingresso, via voto, de sujeitos representantes de valores mesquinhos, cruéis, religiosamente equivocados e perniciosos.
Marielle vive em cada grito indignado por justiça, em cada mulher que escolhe a política para lutar por direitos. Marielle vive em cada coletivo, em todo grupo que se forma para a discussão, reflexão e ação junto à comunidade. Marielle vive em cada cidadã e cidadão que buscam o direito de viver com dignidade em seu país.
Que o espaço escolar seja lugar de trazer à baila, em seus textos, em suas dinâmicas, em seus projetos interdisciplinares a possibilidade de apreender e aprender o sentido do exercício da cidadania, garantindo e cuidando do modo democrático de se fazer presente no mundo. Marielle vive!