O que a escola ensina? Do alto de sua autoridade, o espaço escolar é lugar de construção e sedimentação de conhecimento. É onde o ser humano, no processo civilizatório, compreende-se humano, criador, crítico e herdeiro de todo o conhecimento produzido no mundo e sobre o mundo. A escola tem sua sacralidade nesta Humanização das gerações mais novas, na esperança de que tornem a vida ainda mais valiosa e possível, sempre. Por isto, o currículo escolar é questionado, rearranjado para atender às necessidades de seu tempo. O que ensinar? Como ensinar? Por que ensinar? São interrogações que acompanham a escola em todos os tempos, modificando paulatinamente o seu próprio discurso curricular. Porém, o processo de humanização, inerente às atividades escolares, permanece refletido nos valores que são trabalhados no cotidiano da escola, com suas regras e mecanismos de socialização, do bom convívio e de sua inquestionável premência de acompanhar o desenvolvimento de seus estudantes. Há diversidade quanto aos métodos didáticos empregados, ao estilo docente, ao uso maior ou menor de tecnologia aplicada à Educação. Há, também, diferenças entre as escolas públicas e escolas privadas, apontando a existência de classes sociais e, por isto, a discriminação de escolas para a elite e para as classes populares. E há escolas situadas em bairros periféricos e em bairros das classes mais abastadas. Escola, como instituição social, reflete, assim, as próprias características de seus contextos sociais.
Quando a escola se apresenta como lugar de sofrimento para alguns alunos, percebe-se que algo se perdeu em suas premissas. Quando a escola torna-se lugar de discriminação, de negação do outro, pode-se inferir valores distorcidos e desumanizantes agindo ali. Quando a escola não acompanha seus alunos em seu itinerário de humanização e apenas ressalta as notas e as vitórias de uma escalada meritocrática no seu interior, algo precisa ser revisto. E este algo é justamente o mais importante. Quando a vida que deveria ser exaltada no espaço escolar, torna-se risco de morte, a escola se descola de sua missão, se despe de sua possibilidade de humanizar as novas gerações. Como pode a escola ser lugar de adoecimento, de desesperança, de vontade de morte? Como pode a escola ignorar o sofrimento de um aluno, a arrogância de outro e uma coletividade perdida, diminuída que desvaloriza o diferente e nega o melhor de cada um?
Há um currículo aí, vivido e não registrado. Seu registro está nas subjetividades que processam o cotidiano escolar, que normalizam o abominável, o preconceito, a exclusão. Não há uma guerra entre sujeitos, há um atormentado conjunto de torturas disfarçadas, de violências silenciosas, camufladas. Docentes emudecidos, gestão acovardada, pais alheios aos próprios filhos e alunos experimentando a solidão em corredores e salas de aula, diariamente. Há aí o risco de fazer da escola uma deseducação que desumaniza, que fere e que mata.
Há, pois a necessidade de cada escola reescrever os seus propósitos, optar pela vida, reconhecer os valores ali trabalhados e, definitivamente, discutir sobre o seu processo de humanização. Hora de parar, refletir, chacoalhar os tapetes, ligar o sinal e reelaborar o próprio espaço escolar. Urgentemente.
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